Em Balneário Camboriú, menos de 6% dos resíduos são destinados a reciclagem

O Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, divulgado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), mostra que a geração de resíduos domiciliares teve um aumento médio de 10% no país no ano passado. Isso, certamente, proporcionado pela pandemia. A covid-19 influenciou muita gente a tocar sua rotina de dentro de casa e ainda aumentou o percentual de compras online. Modalidade que requer uma maior quantidade de embalagens. O presente e o futuro em discussão, a reciclagem como alternativa.

Nos tempos em que vivemos, a preocupação com o destino dos resíduos que produzimos é essencial para a previsão de um possível cenário para a preservação ambiental. Também se percebe a importância da reciclagem para a manutenção da qualidade de vida aliada à cultura sustentável. 

De acordo com a mesma pesquisa, o Panorama dos Resíduos Sólidos 2018/2019, da Abrelpe, divulgado pela entidade no final do ano passado, em 2019, a média de produção de resíduos per capita no país era de 379,1 quilos de resíduos sólidos gerados por ano. Se analisarmos o contexto atual, de crescente populacional e de consumo, esse número produzido é ainda maior.

O presente e o futuro em discussão, a reciclagem como alternativa

Sustentabilidade

A partir dessas análises macro, podemos definir a níveis regionais como está à preocupação por meio do poder público e das cooperativas sobre a destinação dos resíduos produzidos nas cidades. A qualidade de vida e respeito ao meio ambiente é um dos objetivos do milênio, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas, dessa forma, o que estamos fazendo, e o que as cidades fazem para respeitar nossos recursos naturais pode definir o quão desenvolvido é uma população.

O presente e o futuro em discussão, a reciclagem como alternativa. Tratando sobre isso, vamos entender como uma cidade do porte de Balneário Camboriú, no litoral norte catarinense, lida com seus resíduos. E como associações e cooperativas de reciclagem funcionam.

Nesse sentido, consultamos a Recicla BC, órgão responsável pela catalogação dos dados sobre reciclagem no município, para tomar conhecimento do potencial da cidade. Com cerca de 145 mil habitantes, o município conta com uma população que pode até triplicar em temporadas de verão. Dessa forma, as informações cedidas pela organização podem até ser subestimadas. 

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Dados importantes

Primeiramente, nos documentos da coordenadoria da Recicla BC consultados pela reportagem, podemos notar que existe uma crescente na adesão da reciclagem. Apesar disso, os dados são inexpressivos se aplicados a um contexto populacional em constante crescimento. 

Índice de separação de resíduos recicláveis 2018: 2,85%

Porcentagem de separação de resíduos recicláveis 2019 (Início do Projeto Recicla BC): 4,15%

Quantidade de separação de resíduos recicláveis 2020: 5,76%

O índice de separação é calculado comparando o total de resíduos gerados (resíduo comum + resíduo reciclável) com o que de fato é resíduo reciclável (coletado na coleta seletiva).

Porcentagem de aumento da coleta dos resíduos recicláveis, sempre comparado com a coleta do ano anterior:

2018/2019: 45,21%

2019/2020: 35,16%

A Recicla BC ainda disponibilizou um comparativo dos anos de 2018 e 2019 para entendermos a diferença no aumento dos índices de reciclagem. No ano de 2018 foram coletadas 1863,42 toneladas de resíduos com destino a reciclagem, enquanto em 2019 foram 2536,15 toneladas. Um aumento significativo, mas que não faz sentido algum se não soubermos a destinação e as organizações que recebem esses materiais. 

Foto divulgação Ambiental – Monitores da Ambiental em trabalho de incentivo à separação de resíduos.

Associações e cooperativas

Atualmente, foram listadas pela instituição cinco organizações, entre associações e cooperativas, que atuam em Balneário. Consultamos Ivana da Conceição, analista de operações e projetos da Ambiental, empresa responsável pela coleta de resíduos de Balneário Camboriú e outras cidades da região, para saber quais são as associações e cooperativas legalizadas a coletarem os materiais que podem ser reciclados na cidade. 

De acordo com Ivana são as seguintes:

– ACMRCB- Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Camboriú e Balneário Camboriú

– Ascomar – Associação de Coletores de Material Reciclável

– APS I – Associação Popular I

– ASP II – Associação Popular II

– Veg Reciclados

Informações dão conta que, apesar de ser citada pela Ambiental, a  Ascomar está em situação irregular. Após averiguação, foi constatado que a associação está inapta às atividades por falta de documentação.

Associações

Conversamos com Simoni Gomes, que faz parte da Associação Popular I, uma das organizações em atividade, para entender de que forma funciona uma ASP. Simoni conta que existe uma espécie de concorrência na área da reciclagem, já que a região conta com algumas associações e cooperativas que tratam dos resíduos.

Além disso, existe ainda a presença de coletores clandestinos, que fazem o recolhimento do material antes mesmo que a Ambiental, responsável pela coleta, passe nas residências. É o que comenta o assessor da empresa Ambiental, Waldemar Cezar:

“Existem muitos coletores clandestinos. As pessoas que ficaram sem trabalho, muitas até por conta da pandemia, passaram a catar material reciclável. Eles passam antes que o caminhão e recolhe o que os interessa”

Coletores autônomos

O depoimento do assessor expõe questões complexas por trás do mercado que existe no ramo da coleta de resíduos e reciclagens. Nas ruas das grandes cidades é possível notar que existe um número considerável de coletores de materiais recicláveis buscando o sustento de suas famílias através de suas carrocinhas, em Balneário não é diferente. 

Dessa forma, também, nota-se que o número estimado de resíduos domiciliares produzidos na cidade pode ser subestimado. Já que existe a prática da varredura dos coletores individuais. A partir daí, surge à necessidade da intervenção do poder público para regulação e oportunizarão dessas pessoas que estão clandestinas, mas que necessitam dessa atividade para sobrevivência. 

Sustento para mais de uma dezena de pessoas

Na associação em que Simoni faz parte, por exemplo, existe a participação de, ao menos, 16 pessoas. Contudo, esse número pode dobrar na temporada de verão, já que a população das cidades litorâneas praticamente é duplicadas.

No inverno, a demanda não sofre alteração da massa de turistas, mas a atividade continua sendo essencial para as associações, que tiram seu sustento disso durante todo ano, e para a cidade, que precisa de uma forma viável de descarte e reutilização dos resíduos produzidos.  

Simoni também conta como funciona a dinâmica do processo de reciclagem:

“Após a coleta, nós recebemos o material, trabalhamos em cima dele, separamos e vendemos para empresas que fazem o transporte até a indústria.”

Só entre janeiro e junho deste ano de 2021, estima-se que a associação em que Simoni faz parte tenha recebido e tratado uma média mensal de 55,9 toneladas de materiais. Dessa forma, as associações e associados ficam responsáveis por toda a elaboração estratégica e logística do beneficiamento do material reciclável produzido na cidade. 

O presente e o futuro em discussão: a reciclagem como alternativa

Por fim, se analisarmos o atual contexto de crescente populacional, bem como de consumo, é certo que teremos que pensar e planejar a produção de lixo e de resíduos a curto, médio e longo prazo. Assim, iniciativas e ações de associações e coletores individuais podem fazer total diferença para o futuro.

No entanto, é necessária uma organização maior para que os interesses pessoais não se perpetuem dentro de um nicho que pode ser essencial para a manutenção da qualidade da vida humana e do desenvolvimento das cidades.

Uesley Durães – Redação Condometing