Edifício Andrea

Nove vidas ceifadas, famílias abaladas e a sociedade brasileira indignada por uma tragédia anunciada. Apenas não era possível prever quando, mas o Andrea estava fadado a desabar.

Como engenheiro que há muito tempo milita no ramo, sempre ouço o seguinte questionamento:

– Qual é o problema mais comum das construções?

A resposta é imediata:

– A negligência humana!

Sim, a negligência faz com que as edificações sofram rachaduras – que foram pequenas fissuras, problemas estruturais, falência dos sistemas de impermeabilização, infiltrações, vazamentos, mofo, entre outros. Mesmo os prédios executados com grande rigor construtivo sofrerão com os processos de envelhecimento inerentes a qualquer edificação; portanto, necessitarão de manutenções periódicas, a fim de recuperar o desempenho seguro.

No dia 15.10.2019 foi o edifício Andrea, mas, se algo não for feito para mudar a percepção de todos a respeito da segurança das edificações, teremos, infelizmente, vários outros Andreas. No passado as muitas que comoveram o país não foram suficientes para acender o sinal de alerta. Se não houver um novo Andrea será um outro Palace II, ou, quem sabe, uma edificação com nome e sobrenome, como o Wilton Paes de Almeida, que emocionarão o país e nos farão refletir de maneira efêmera, porém, sem resultados práticos para o futuro.

O caso do Andrea, há um agravante, pois, o município de Fortaleza sancionou, em 2012, uma Lei que obriga as edificações residenciais com três ou mais pavimentos e as de uso coletivo, a apresentarem, periodicamente, certificado de vistoria garantindo a adequada manutenção da edificação e a estabilidade estrutural.

Dentre as inúmeras funções de um síndico, o Código Civil inclui “diligenciar a conservação e a guarda das partes comuns e zelar pela prestação dos serviços que interessem aos possuidores”. Portanto, deve o síndico empenhar-se para que a edificação seja um local seguro e confiável. Se o portão da entrada emperra ou o elevador não funciona a contento, a solução é sempre muito rápida, pois as reclamações são gerais; porém, quando aparece qualquer problema na estrutura do prédio, parece que há um senso comum de que sempre há tempo para protelar a solução.

Entre as muitas atribuições das escolas de Engenharia do país está a de fazer com que os alunos sigam nosso Código de Ética, que considera a profissão de engenheiro alto título de honra e sua prática exige conduta honesta, digna e cidadã, devendo ser desempenhada nos limites de suas atribuições e capacidade pessoal. Profissão esta que não pertence ao profissional que a exerce, mas, é um bem social e cultural da humanidade, voltada, unicamente, para o bem-estar e o desenvolvimento da sociedade. Não devendo o engenheiro assumir serviços para os quais não está capacitado, e, mesmo aquele que apenas visita uma construção, deve alertar os responsáveis com relação à necessidade de reparos e manutenções imediatas.  

Aprendi durante o curso de Engenharia Civil da UFPR, na década de 1990, que o concreto armado é muito resistente e aguenta até “desaforos”, porém, constatei na prática, que ele não é capaz de resistir à negligência humana.  

Antonio Carlos Cambri Junior

Engenheiro civil e Professor de Graduação e Pós-graduação. Curitiba/PR.

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