Ser síndico é uma função que exige dedicação, responsabilidade e uma dose considerável de resiliência. No entanto, há momentos em que o peso do cargo transcende o profissional e começa a minar a saúde física, mental e espiritual. Reconhecer esses sinais e saber a hora de renunciar não é um ato de fraqueza, mas sim de sabedoria e autopreservação.

A gestão condominial, por sua natureza, envolve lidar com uma miríade de personalidades, conflitos de interesses, pressões financeiras e uma disponibilidade quase que ininterrupta. O síndico assume o papel de administrador, mediador, gestor de crises e, por vezes, até mesmo de psicólogo. Essa sobrecarga, quando não gerenciada adequadamente, pode levar a um esgotamento progressivo.

Os sinais do esgotamento na vida do síndico

A saúde física costuma ser a primeira a dar indícios de que algo não vai bem. Dores de cabeça constantes, problemas gastrointestinais, tensão muscular, alterações no sono e um sistema imunológico enfraquecido são manifestações comuns do estresse crônico. Ignorar esses sintomas pode levar a quadros mais graves, como hipertensão e doenças cardiovasculares.

No campo mental e emocional, o desgaste pode se manifestar através de irritabilidade excessiva, ansiedade, lapsos de memória e até burnout ou depressão. O síndico pode se sentir constantemente sobrecarregado, incompreendido e isolado, perdendo o prazer em atividades que antes eram prazerosas.

A dimensão espiritual, entendida como o senso de propósito e bem-estar interior, também é afetada. A constante exposição a conflitos pode minar a paz interior e gerar um sentimento de vazio.

Renunciar também é um ato de coragem

A princípio, reconhecer que o mandato de síndico está prejudicando a saúde é o primeiro passo. A decisão de renunciar, embora difícil, é um ato de coragem e, acima de tudo, de responsabilidade consigo mesmo. Continuar em uma função que gera tamanho desgaste não beneficia o indivíduo nem o condomínio.

Ao tomar essa decisão, é importante fazê-lo de forma planejada e transparente:

  • Comunique formalmente sua saída em carta ou assembleia.
  • Cumpra os prazos previstos na convenção.
  • Organize a transição com documentos e contatos.
  • Priorize o diálogo com condôminos e conselho.

Afinal, saber o momento de renunciar é uma lição valiosa que transcende o universo condominial. Ao priorizar a saúde, o síndico abre espaço para que outra pessoa, com energia renovada, assuma o desafio.

E, quem sabe assim, após um período de recuperação, o desejo de contribuir com a comunidade possa ressurgir de formas mais leves e saudáveis. Por fim, a verdadeira força reside em reconhecer nossos limites e em fazer escolhas que honrem nosso bem-estar integral.

Vanessa Munis | Síndica, advogada e mentora