O autismo é uma condição que faz parte da vida de milhões de brasileiros, e cada vez mais síndicos e administradores de condomínios estão buscando formas de promover inclusão e boa convivência entre moradores.

No ambiente condominial, compreender as necessidades de pessoas autistas é essencial para evitar conflitos, fortalecer a empatia e garantir um espaço harmônico para todos.

Convivência com autistas em condomínios

A síndica Caroline Serpa, que administra dois grandes condomínios com 1.952 famílias, decidiu levar o tema para além dos muros do seu prédio. Sua motivação nasceu de uma experiência pessoal: ter um familiar autista. A partir dessa vivência, ela percebeu a importância de informar e sensibilizar vizinhos sobre o que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e como lidar com as diferenças de comportamento.

Segundo Caroline, em seu condomínio há de dois a três autistas por bloco, o que gera dúvidas e, em alguns casos, reclamações. “Muitas vezes, o vizinho não entende que determinados comportamentos não são ‘birra’ ou ‘má educação’, mas sim parte da condição do autista”, explica.

O papel do síndico na inclusão

O síndico é o mediador natural entre moradores e famílias de autistas. Isso significa explicar a situação aos vizinhos, orientar sobre o respeito às diferenças, bem como, buscar soluções coletivas para problemas como barulho, rotinas e adaptações de acessibilidade. Campanhas internas, palestras e rodas de conversa são ferramentas eficazes para criar um ambiente mais acolhedor.

Caroline desenvolve o projeto “Síndico Amigo do Autista”, que leva então informações a outros síndicos e promove treinamentos para lidar com diferentes situações. “Cada autista é único. É fundamental conhecer e respeitar suas necessidades específicas, especialmente em relação à rotina e estímulos sensoriais”, reforça.

Entendendo o autismo no dia a dia condominial

O autismo é uma condição neurológica e não uma doença. Entre as características mais comuns estão a dificuldade de compreensão de regras sociais, hipersensibilidade a sons e luzes, necessidade de manter rotinas e, em alguns casos, comportamentos repetitivos.
No condomínio, isso pode se manifestar de várias formas — desde resistência a mudanças na rotina até reações mais intensas a barulhos e festividades.

Além disso, há períodos críticos, como férias escolares ou pausas em terapias, que podem afetar o comportamento da pessoa autista. Por isso, a comunicação clara e a flexibilidade nas regras podem fazer toda a diferença.

Estruturas e tecnologia a favor da inclusão

A acústica predial é um ponto crucial. Isso porque construções populares, como as de programas habitacionais, muitas vezes não oferecem isolamento sonoro adequado, o que pode intensificar conflitos. Dessa forma, investir em melhorias simples — como pisos adequados e paredes reforçadas — ajuda a reduzir ruídos e aumentar o conforto de todos.

Inclusão é atitude

Caroline também participa de ações com a AMA (Associação de Pais e Amigos dos Autistas), levando palestras e atividades de conscientização para escolas, empresas e condomínios. Portanto, entre as dicas para síndicos e moradores estão:

  • Respeitar a rotina das pessoas autistas.
  • Evitar julgamentos precipitados sobre comportamentos.
  • Adequar som e iluminação em assembleias e eventos.
  • Criar canais de comunicação para acolher e orientar famílias.

Por que falar sobre autismo em condomínios?

Por fim, o número de diagnósticos de autismo vem crescendo no Brasil, e é fundamental que a gestão condominial acompanhe essa realidade. Ao criar um ambiente inclusivo, o condomínio não apenas evita conflitos, mas também constrói uma comunidade mais solidária e preparada para lidar com a diversidade.

Lanume Weiss